Victorino de Menezes foi comerciante de escravos em Desterro entre o final da década de 1860 e o ano de 1884. Tinha conexões comerciais com o Sudeste, em especial, com o mercado de escravos em Campinas. Sua trajetória na cidade acompanha o auge e o fim do comércio interprovincial de escravos no Brasil. Embora outros comerciantes também comprassem e vendessem escravos, Victorino era o único especializado nessa mercadoria. Seus negócios eram divulgados nos jornais, onde anunciava comprar cativos, de preferência homens e jovens, que seriam revendidos na região Sudeste.
Era filho de pais desconhecidos e natural da Província do Rio de Janeiro. Estava radicado no Espírito Santo quando transferiu seus negócios para Santa Catarina. Em Itapemirim deixou sua mulher, D. Izabel Francisca de Menezes e as filhas Maria (falecida em 1874) e Leonor. Só em 1880 é que sua família se transferiu para Desterro.
Um testamento feito em 1874 indica que seus negócios iam bem e seus investimentos eram diversificados: possuía sobrados no centro de Desterro, terras na parte continental (São José), além de propriedades alugadas. No Espírito Santo, também era proprietário de outros bens. Embora tenha mediado a transferência de diversos cativos, sua escravaria pode ser considerada pequena: possuía dois escravos em Itapemirim, atendendo seus familiares, e outros dois que os auxiliavam em Desterro. Dentre esses, havia a Maria Margarida Duarte, dada como “parda”, com quem Victorino teve um filho, Hercílio. O menino foi reconhecido e alforriado na pia batismal e teria, por testamento, direito a um sobrado na praça Barão de Laguna (o largo do palácio e da igreja matriz) e a outros bens.
Depois do fechamento do comércio interprovincial de escravos em 1881, pela elevação dos impostos devidos nas transações, as atividades comerciais de Victorino praticamente cessaram. Em 1884, ele foi vítima de um brutal assassinato cometido em Campinas, onde foi cobrar dívidas. Noticiados também em Campinas e na Corte, o crime e a investigação foram o assunto da cidade por muitas semanas. Ficou esclarecido que Victorino foi assassinado premeditadamente por João Pinto de Almeida Júnior, agente do Banco Mercantil de Santos em Campinas.
Em Desterro, a rua onde Victorino tinha um depósito de escravos era conhecida como “Rua de Victorino de Menezes”. Atualmente a rua se denomina Rua Hoepcke.
Anúncio: O Conservador, 1 dez. 1875,
CABRAL, Oswaldo R. Nossa Senhora do Desterro. Notícia I. Florianópolis: UFSC, 1972, p. 131-132.
CABRAL, Oswaldo R. Nossa Senhora do Desterro. Memória II. Florianópolis: UFSC, 1972, p. 110.
SCHEFFER, Rafael da Cunha. Victorino de Menezes: um comerciante de escravos em Desterro. In: MAMIGONIAN, Beatriz Galotti; VIDAL, Joseane Zimmermann (org). História Diversa: africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina. Florianópolis: Editora da UFSC, 2013. p. 177-195.
Arquivo Público do Estado de Santa Catarina – Florianópolis, Processos Judiciais, Caixa 6,Pasta 94, Inventário de Victorino de Menezes.